Perda ou aumento de peso sem causas conhecidas, cansaço e alterações de humor podem ser sintomas de problemas na tireoide – glândula em formato de borboleta, localizada no pescoço. Para sanar dúvidas sobre o assunto, entrevistamos o médico endocrinologista dr. Eduardo Lauretti. Acompanhe:
O que é a tireoide e qual a sua função?
A tireoide é uma glândula situada na face anterior do pescoço. Sua função é produzir os hormônios tireoidianos, que são
lançados na circulação sanguínea e alcançam todos os órgãos do corpo. Estão envolvidos no controle de energia e metabolismo, afetando especialmente o cérebro, coração e músculos.
Quais são as doenças que alteram a fabricação dos hormônios e quais as causas?
Quando a quantidade de hormônios fabricada pela tireoide é baixa e não supre as necessidades do organismo, chamamos de Hipotiroidismo. É como se nosso corpo desacelerasse: sentimos cansaço, sonolência, alterações de atenção e memória, a pele fica seca; pode haver retenção de líquidos e algum ganho de peso. Observe que esses sintomas não são específicos,
podendo ocorrer em diversas doenças.
As causas mais frequentes são: Tireoidite de Hashimoto, uma inflamação crônica da tireoide, causada por anticorpos contra nosso próprio organismo (por isso recebe o nome de autoimune); Remoção cirúrgica da glândula, por vários motivos, como tumores ou bócio (popularmente, papo); Hipotiroidismo congênito (que já está presente ao nascimento), normalmente por defeitos na formação da glândula; por isso o “teste do pezinho” é tão importante; Doenças em que a tireóide não é adequadamente estimulada pela hipófise, a glândula mestra situada na base do cérebro – bem menos comuns.
Já o Hipertiroidismo tem sintomas opostos, de aceleração das nossas funções: ansiedade e insônia, emagrecimento, aumento dos batimentos cardíacos (ou arritmias), tremores, sudorese excessiva. No idoso pode aparecer como depressão ou insuficiência cardíaca. As causas mais frequentes são: Doença de Graves, também autoimune, costuma apresentar bócio e em 50 % dos casos, alterações oculares (irritação ou mesmo protrusão dos olhos); Bócio multinodular: é um aumento de volume da tireóide que progride lentamente com o tempo, popularmente conhecido como “papo”. No seu interior, nódulos maiores (nesse caso sempre benignos) são capazes de produzir hormônios em exagero. Dosagem excessiva de hormônio para tratamento do hipotiroidismo; Inflamações virais e alguns medicamentos.
Como é feito o diagnóstico e o tratamento?
Aliado ao quadro clínico, o diagnóstico é objetivo através de exame de laboratório: dosamos normalmente os hormônios
T4livre e TSH, mas não é incorreto solicitar T3 e T4 totais. Exames de anticorpos ajudam a esclarecer a causa, em especial
das Doenças de Hashimoto (causa hipotiroidismo) e de Graves (causa hipertiroidismo). Como nódulos podem ser produtores
de hormônios, a ultrassonografia da tireoide é importante para detectar a sua presença.
Tratamos o hipotiroidismo com a reposição de hormônios; a maioria dos especialistas prefere usar apenas a Levotiroxina (T4),
que é iniciada em doses baixas e aumentada gradualmente conforme os exames. Observação importante: na gestante o tratamento tem regras mais rigorosas e específicas, devido ao desenvolvimento fetal.
O tratamento do hipertiroidismo pode ser feito com medicação oral, iodo radiativo ou cirurgia, dependendo da causa. Enquanto
a medicação por 12 – 18 meses pode controlar a Doença de Graves, às vezes é necessário utilizar o iodo radiativo ou cirurgia,
que para as doenças que envolvem nódulos produtores de hormônio, são as terapias de escolha. É preciso individualizar o
tratamento e levar em conta as preferências do paciente.
Alguns alimentos podem prejudicar a saúde da tireoide?
Temos visto publicações científicas sobre o assunto e muitas informações em mídia, poucas recomendações são baseadas
em evidências sólidas. Lembramos que o iodo é um micronutriente essencial para a produção de hormônios tireoidianos. Em países com suficiência na dieta (nosso sal é iodado), ingestão de iodo como medicamento pode provocar hipo ou
hipertiroidismo em pessoas predispostas. O selênio é um protetor da tireoide, mas já deve estar presente em dietas normais. Pacientes com Doença de Graves com doença ocular podem ser beneficiadas por suplementação, segundo um estudo. A soja e os vegetais crucíferos (couve, brócolis, couve-flor) contém substâncias que poderiam interferir na função da glândula e produzir aumento (bócio), mas não em quantidades normais da alimentação. Enfim, muito estudo ainda à frente para recomendações precisas.
Algo mais?
Sobre nódulos da tireoide: Os nódulos podem ser percebidos como saliências na superfície da tireoide, pelo paciente, terceiros
ou ao exame clínico. Hoje em dia, entretanto, é muito mais comum que sejam encontrados no exame de ultrassonografia, frequentemente solicitadas por outros motivos. a maioria deles é benigna, podendo corresponder a áreas de inflamação ou proliferação celular localizada. O ultrassom é o exame ideal para avaliação dos nódulos; pelo tamanho e uma série de
características permite dizer se é ou não suspeito para tumor maligno. Nesse caso prosseguimos solicitando uma punção aspirativa com agulha fina (PAAF), que é um tipo de biópsia, em que o médico coleta material, guiado pelo ultrassom, e envia
para exame ao microscópio. Com diagnóstico ou suspeita de câncer, o tratamento é cirurgia, e felizmente a possibilidade de
cura é muito grande. Caso o diagnóstico da biópsia seja benigno, esse nódulo pode ser acompanhado através de ultrassom anual. A punção só é repetida em casos de crescimento rápido, já que os nódulos benignos também podem crescer, mas
isso ocorre de maneira lenta. Da mesma maneira, bócios que contém múltiplos nódulos podem crescer lentamente e em algum
momento produzir sintomas de compressão da traqueia (desconforto para respirar), ou de outras estruturas; nesse caso em geral o tratamento é cirúrgico.
Serviço – O dr. Eduardo Lauretti é formado pela Universidade de São Paulo, especializado no Hospital das Clínicas da USP.
Em Socorro atende na Clínica Center (3895-1020) e também pelo Conisca.
