Aos 44 anos, Aline Lincoln Silveira é professora, pedagoga, psicopedagoga e especialista em Educação Especial e Comunicação Aumentativa Alternativa. Ela se tornou mãe pela primeira vez aos 24 anos, com o nascimento da Carolina. Já conhecia o amor típico da maternidade. Mas foi com a chegada da Bella Maria, aos 40, que viveu uma transformação profunda — pessoal, emocional e espiritual.
Na 35ª semana de gestação, um ultrassom de rotina mostrou que o perímetro cefálico da bebê era menor do que o esperado. “Naquele momento, um buraco se abriu no chão. Sabíamos que algo estava errado, mas não sabíamos o que viria pela frente.” Após o nascimento, vieram exames e uma investigação genética que confirmou: Bella tem Lisencefalia 3, uma condição genética rara, não hereditária.
“Ninguém planeja ter um filho com deficiência. O diagnóstico causa medo, frustração, impotência, culpa. Mas, com o tempo, isso se transforma em coragem, resiliência e força.” As maiores dúvidas de Aline envolviam o futuro: como seria o desenvolvimento da filha? Ela teria independência? Como a sociedade a trataria?
A resposta veio com o tempo. “ei a viver um dia de cada vez. E nesse caminho, encontrei apoio na família, na pediatra e em outras mães que vivenciam jornadas parecidas.” Durante dois anos, Aline levou Bella para tratamento intensivo em Santa Catarina. Um quarto da casa virou sala de terapia. “Fui aprendendo e me qualificando para fazer os estímulos em casa com o e da equipe de profissionais. Hoje, faço a maior parte das terapias com ela.”
A rotina é puxada: terapias todos os dias, natação, escola com adaptações. “Conciliar tudo não é fácil. Acho que nem consigo. Mas tento priorizar. Voltei a cuidar de mim, a ver os amigos, a trabalhar com o que amo.”
A rede de apoio familiar é essencial. “Sem ela, nada disso seria possível.” Nos momentos difíceis, Aline e o marido, Xuxa, sustentam um ao outro com um pacto: “Sempre juntos pra tudo.” E é na fé que encontram força para seguir.
Aline acredita que a sociedade precisa entender que os direitos das pessoas atípicas não são privilégios. “Muitos julgam sem saber. Não têm ideia do que é viver a realidade de uma família atípica.”
E é Bella quem mais ensina. “Ela me mostra o que é amor verdadeiro, o valor do tempo e o real significado da felicidade. O tempo dela tem outro ritmo. Cada sorriso, cada pedalada adaptada, é uma celebração.”
Para quem inicia essa jornada, Aline deixa um recado: “É possível ser feliz sendo mãe de uma criança com deficiência. Aproveite cada momento. Se você planejou ir à praia e a vida te levou para as montanhas, encontre beleza nesse novo lugar. Siga em frente, rumo ao topo. Você não tem ideia do que a vida está preparando. O melhor ainda está por vir.”